sábado, 16 de abril de 2011

A MERCÊ, MAS NÃO A DERIVA. QUEM DISSE QUE O MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UESB É BESTA?



Numa dessas tardes preguiçosas e calorentas em que Jequié estimula a “tagolada” em uma cerjevinha bem geladinha, que vem acompanhada por um aperitivo (picanha) feito delicadamente pela cozinheira do Bar do Betão, localizado em frente a UESB, estávamos eu e meu esposo, disponíveis para apreciar o movimento de entrada e saída dos estudantes, no frenesi de engajamento político que uma greve como essa provoca.
Não posso deixar de dizer que me envaideço demais dos “meus meninos e meninas”. Não posso deixar de admitir que fico toda toda orgulhosa dessa maternidade – agora disputada – que é altruísta, que é autônoma. Que mãe, alías, não se orgulharia da emancipação dos seus filhos?
Quando vejo os “meus meninos e meninas” sitiarem a Universidade em que trabalho, sou tomada por dois sentimentos antagônicos: inveja e saudosismo. Fico com uma ponta de inveja, que me faz questionar, porque não fui eu, porque não fomos nós, docentes, quem fizemos isso? E saudosismo porque durante mais que 5 anos da minha vida militei no movimento estudantil da UFBA (Presidindo o Diretório Acadêmico de Geografia), aonde aprendi o pouco do que sei sobre política e sua podridão.
Antecipando-me a qualquer má interpretação que pode advir a partir da observação do longo tempo em que me dediquei ao DA de Geografia da UFBA, quero dizer que não desejava me perpetuar no poder em mais que 2 gestões do DA, mas a conveniência e a preguiça de cada um dos membros do curso, forjou a minha posição de mandatária. E de tal modo isso foi conveniente, de tal estive associada ao DA, que mesmo tendo aulas no Mestrado em Geografia da UFBA, os estudantes da Graduação me convocavam para as suas reuniões, o que provocava críticas dos professores, que vendo a minha ligação com o DA, questionavam a minha “maturidade” para estar na Pós Graduação...Imbecis os meus professores, que tristemente imaginavam que a maturidade de qualquer estudante se forja apenas no contato com as suas caducas teorias.
A partir dessa experiência no DA de Geografia da UFBA, também, aprendi que seus sonhos de juventude estavam “por fora” e que a partir de um determinado momento passou a valer a lei do mais forte no caso, lei que os partidos mais fascistas do Brasil, o PT e o PC do B determinavam.
Minha decepção com a política partidária foi tão grande que quando aparece na TV os mensalões da vida, quando me dizem que as compras que cada brasileiro fez, quando usou a bandeira da administradora do Cartão de Crédito Visanet do Banco do Brasil ajudou a financiar a campanha de Lula para a Presidência da República, ainda que não votando nele, a minha sensação é de eu já sabia, e mais ainda, de total aceitação, porque francamente, não poderia esperar outra coisa das nossas lideranças políticas, sejam elas de esquerda ou direita.
...Mas retornando ao Movimento Estudantil da UESB e a tarde preguiçosa de contemplação do movimento dos estudantes em frente aos portões fechados da instituição, sentia-me orgulhosa, até o momento em que começo a puxar conversa com alguns deles e percebo “contaminações” urdidas por alguns inconformados com as decisões do DCHL, que objetivam assegurar o direito de ir e vir de cada professor. Nos discursos enviezados, repassados a tais estudantes – perversamente por um grupo que não se conforma com os rumos mais democráticos que o processo eleitoral de tal departamento definiu em pleito legítimo –, a história fantasiosa de um professor concursado que é liberado para cursar doutorado tão logo saí a sua nomeação, é citada como exemplo de má conduta na gestão desse departamento.
Preocupa-me muito falas como essa porque elas focalizam-se na intriga de curto alcance, sem se dar conta que (será?), quando se forja tão descaradamente o atrito entre as categorias de estudante e professor, ainda que sem perceber, estamos encetando um veneno mortal no própria razão de ser de nossa mobilização. Preocupa-me muito a fala que ouvi do estudante, porque sem perceber ela acaba concordando com o decreto do Governador “pelego” que nos retira direitos essenciais, dentre eles, o de ir e vir
Escândalo, excrescência, vilania, sordidez não é o professor sair parcialmente (com calendário espacial) para se especializar as suas próprias espessas e voltar mais qualificado para o seu trabalho. Escândalo, excrescência, vilania, sordidez é perpetuar “a lenda” de espaços de trabalho e convivência que não se realizam nunca, senão, na imaginação daqueles que desejam ver a UESB crescer. Escândalo, excrescência, vilania, sordidez é tentar retirar de nós cidadãos, o direito legítimo de nos movimentarmos livremente e de nos educarmos, também. Escândalo, excrescência, vilania, sordidez é criar cursos, tendo em vista o atendimento de uma elite política partidária local/regional, que está sempre em disputa, como galos numa rinha, sabendo que esses cursos não se sustentarão, senão, pela iniciativa do Governo em criar novas vagas para a Universidade.
De há muito tempo, o Governador Jacques Wagner – ou diria, também os Governadores que o antecederam – vem tentando engendrar fórmulas para “assassinar” com requintes de crueldade, as universidades estaduais baianas. A visão que deixa transparecer, não só por meio do Decreto 12.583, bem como, a partir da leitura atenta de alguns trechos do próprio Estatuto do Magistério Superior, evidencia as intenções do cometimento dessa perversidade.
Uma ação direta de inconstitucionalidade, que tenta retirar de tal estatuto a obrigatoriedade do cumprimento do estagio probatório já obteve deferimento na Justiça Federal, conquanto, o Governo do Estado da Bahia tenha recorrido a medidas protelatórias, objetivando manter o professor dentro da sala de aula, tendo em vista justificar perante o Ministério da Educação – que obriga as instituições de ensino superior  a terem determinado número de docentes produzindo e qualificados –, o não reconhecimento, ou quando não, o fechamento das portas da UESB quando as metas de qualificação e produção não forem atingidas.
Culpabilizar o Professor por seu desejo de especializar, não demonstra somente a mesquinhez de quem assim pensa, mas, a incompreensão patente do que é a própria Universidade, aonde não se vende banana, maçã, e sim, se doam saberes, produto de nossas experiências; aonde a medida não é somente a quantidade de professores e sim, a qualidade que eles tem; aonde a filosofia imperativa deveria ser a do questionamento de verdades que chegam formatadas e não a aceitação tácita dos discursos que prontos.

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