sábado, 16 de abril de 2011

A DESCONSERTANTE ASSEMBLÉIA DA UESB E A DEFLAGRAÇÃO DA GREVE UNIVERSITÁRIA. MUITO MAIS QUE UM CALO NO PÉ





Ontem, dia 05 de abril de 2011, no Auditório Wally Salomão da UESB, Campus Universitário de Jequié, aconteceu a Assembléia da ADUSB que deflagrou a greve dos docentes, e, espero eu, universitária. Chamou a minha atenção, desse que se configurou como o mais importante evento que a categoria docente da UESB realizou nos últimos 10 anos – tempo de minha permanência na instituição –, alguns aspectos que me parecerem genuinamente verdadeiros, e outros nem tanto, das falas proferidas; a coragem de uma colega – única a votar contra a realização da greve – que foi contra a maioria, e que por essa razão eu passo a respeitar muito mais a partir de agora; o perfil das decisões, que graças à intervenção dos estudantes, deixam de ser classificadas como “da categoria docente” e passam a “ser da classe universitária”; e a cobrança dirigida a alguns professores do DCHL por parte de um estudante, que nos julgou silenciosos demais, ante os pronunciamentos feitos tão apaixonadamente pelos outros colegas de outros departamentos da UESB e que me fez sentir como se estivesse em um concurso de popularidade, tendo que provar que sou a mais mais diante da platéia.
Para mim tudo nessa Assembléia foi diferente e, paradoxalmente, igual. Diferente foi ver a limitação de acesso praticada pelos estudantes, prostrados bem à porta da Instituição, agora controlada por eles. E igual e previsível foi constatar o gesto de “boa vontade” da ADUSB, que por votação expressiva da plenária docente, assegurou o direto à voz para os discentes se manifestarem. Puro jogo de cena!
Não posso me esquecer também das encenações de engajamento solidário aos estudantes e tentativas constrangedoras de simulação de independência partidária praticada por alguns colegas, professores. Tentativas essas que se desvanecem quando lançamos um olhar sobre o modo como agem no cotidiano universitário: manipulam estudantes na tentativa de faze-los crer que, dentro da política há um lado bom e outro ruim e perseguem colegas, que ousam discordar de suas posições.
Muito embora a encenação fajuta não tenha surtido efeito em mim, os inadvertidos poderes públicos municipais não deixam por menos e expõem a desfaçatez dessas células cancerosas e um cinismo constrangedor que povoam a UESB, quando exibem cartazes em via pública: “parabéns Governador Jacques Wagner pelos 75% de votos conquistados junto a população de Jequié”. Quanto por cento dessas 75% de votos conquistados pelo remakede Toninho Malvadeza polaco não foi assegurado pelo voto dos que agora querem parecer a-partidários?; há quanto tempo a esquerda vagabunda brasileira, com o consentimento dos preguiçosos e silenciosos intelectuais, não domina o “livre pensamento” universitário formatando teorias, métodos de trabalho dos professores, que insistem em praticar um fisiologismo que nem Marx suportaria mais?; quantas vezes acusamos o outro de sermos a-políticos (querendo chamá-los de a-partidários) simplesmente porque esse outro ousa discordar do consenso que tristemente destitui de legitimidade o pensamento independente e original?
É por razões como essa que pratico na minha profissão, o que o mestre Milton Santos deixou como legado: “eu não sou preta e nem sou branca...sou intelectual e não comprometo essa condição por nenhuma fé”, porque política não pode ser pensada como jogo de futebol; política não é FLA  x FLU e nem BA x VI; política deve justamente opor a razão à emoção pragmaticamente.
A desconcertante Assembléia dos Docentes da UESB foi boa por ser lacerante. Nela escancararam-se a nossas fragilidades em termos de organização enquanto categoria. Fomos, na realidade, tomadas de roldão pela reação dos estudantes, que forçaram a deflagração da greve, nos dando o lastro necessário para legitimar o movimento de embate contra a destruição das universidades estaduais baianas. Um lastro, inclusive, que nós docentes não temos como sustentar sozinhos – nunca tivemos –, senão, amparados pelo apoio dos discentes, porque num estado antidemocrático como esse, até as leis que o próprio Estado consuetudina para distensionar as relações de capital/trabalho, ele mesmo ignora a conveniência de atestar a sua força descomunal contra o protesto legitimado pelo desrespeito. A lei de greve e a Constituição Federal, achincalhadas pelo Governador remake deToninho Malvadeza polaco, quando me nega o direito de ir e vir e quando me repreende quando eu tento me educar, são exemplos do que quero dizer.
Muito embora eu esteja convicta que nada muda mais que o passado – preenchido por histórias inventadas, porque nossa memória não consegue dar conta da reprodução literal do que se foi – procurarei imobilizá-lo para lançar uma questão que me incomoda agora e que precisa ter uma resposta entusiasmada, não só minha, mas da Universidade como um todo: e agora, o que faremos?
Muito embora precise, não penso em ir a praia, não penso em dormir até tarde e nem penso em ajudar o meu filho a dar conta dos seus deveres atrasados, por minha culpa, inclusive. Ao contrário, a partir da deflagração dessa greve universitária, praticar a minha intelectualidade produzindo, passou a ser condição indispensável para atestar o meu engajamento com a luta que eu escolhi lutar. Faço isso porque detestaria saber que ninguém sentiu a falta da UESB em Jequié, Itapetinga ou Vitória da Conquista.
É para essas comunidades, inclusive que deixo um apelo: esforcem-se para não pensar na Universidade com a mesma lógica com que pensam o funcionamento de uma Ramarim da vida, porque além “das mercadorias” que se “vendem” lá e aqui serem diferentes, a longo prazo a falta de sapato pode causar no máximo o aparecimento de um calo, mas, a longo prazo, a falta o fechamento das portas da UESB causa o que? Muito mais que um calo no pé, admitam. Quem tiver filhos estudando, quem for mãe ou pai que é estudante que me dê essa resposta;

Um abraço e vamos a luta!

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