sábado, 23 de abril de 2011

SAÚDE (?) EM JEQUIÉ. SUBSCREVA O SEU PROTESTO E VÁ PARA VITÓRIA DA CONQUISTA




Eu nunca me dei ao trabalho de, por razões particulares, realizar uma campanha pública. Talvez, me faltasse o apelo necessário para isso, mas, ele vem na medida em que sou obrigada a migrar até Vitória da Conquista para  realizar uma cirurgia ambulatorial para retirada de pólipo endocervical; o apelo me chega quando sou obrigada a "despachar" minha tia de 82 anos para morar em Salvador - única que eu tenho -, porque Jequié não possui sequer um profissional Geriatra; o apelo me chega quando ligo para um consultório médico no dia 06 de um mês qualquer e uma constrangida secretária me informa que a agenda desse tal mês já está fechada; o apelo me chega quando me defronto com a necessidade de migrar, novamente porque os médicos de Jequié não realizam uma simples audiometria ou videolaringoscopia para exame admissional.

E ainda querem me convencer que dentre 417 municípios que compõem o esquadrinhado território baiano, Jequié é a 5ª cidade mais importante.
O estado crítico da saúde que é oferecida nesse município não condiz com a alegada pujança que os relatórios evidenciam, isso é claro. Alías para ser bastante franca, como cientista (Geógrafa), e, principalmente, enquanto “cidadã jequieense” – por necessidade e conveniência locacional e de trabalho – sempre desconfiei dos critérios utilizados para medir índices de desenvolvimento que passam a largo de saúde, educação, transporte, moradia e lazer. Sim, porque se realmente os pesquisadores se dessem ao trabalho de estar aqui por uma semana, saberiam que todos os itens básicos relacionados funcionam não mais que precariamente.
No que se lastreia mesmo a alegada pujança no desenvolvimento de Jequié? Na existência de um “parque industrial” cujas empresas mais importantes são as fábricas de biscoito “poca zóio”; na existência de uma sub-sub-sub filial de empresa de sapato; fabrica de café e empresa de economia cidadã? Por favor, me polpem, porque o desenvolvimento mais próximo que passa por aqui só pode ser encontrado a 153Km de distância: em Vitória da Conquista.
Da minha parte pouparei-os também de tecer considerações sobre outros temas, senão, o da saúde, porque necessito ser enfática. Falarei de saúde, exclusivamente da saúde que é oferecida em Jequié e sobre ela tenho algumas adjetivações nada positivas: caótica, precária, indecente, aviltante...e olha que a minha visão é a de alguém que com algum esforço consegue pagar um plano de saúde. Se operasse no nível do sistema público, certamente teria que usar outras adjetivações: lastimável, indigno, revoltante seriam algumas destas.
Em Jequié a prestação do serviço de saúde não existe.
Se fizesse essa alegação acerca de 5 anos atrás, certamente ela se localizaria apenas no plano serviço público, àquela época já bastante precarizado,  contudo, devido a contingências da especulação capitalista, o sistema de saúde privado também deixou de existir nessa cidade. E deixou de existir pelo descompromisso de todas as partes envolvidas – pacientes, sistemas (prestadoras de serviços) e profissionais da saúde, especialmente os médicos – com a preservação da vida humana, que  sempre pode esperar e ser posta numa agenda, organizada ao bel prazer da presunção dos médicos, que sempre imaginam que a saúde do outro pode esperar. Não passam de traidores de princípios a que juram fidelidade. Pobre Hipocrátes!!!
É por essas e outras que eu os odeio. Odeio os médicos, com todas as forças do meu coração. Indiferentes a tudo, indigentes da alma humana, esses profissionais não passam de técnicos especializados em mecanizar a vida das pessoas. Nunca se dão ao trabalho de perguntar como você vai. Só se preocupam em saber o que você tem, esperando que você seja preciso na explicação.
Conquanto esteja com muita raiva - porque ninguém deveria ser obrigado a sair do seu conforto para se colocar nas mãos do outro - sinto um prazer mórbido de admitir que Vitória da Conquista, em muito ultrapassa Jequié na prestação do serviço de saúde e ainda que não se trate de tecer comparações entre a uma Suiça e o Brasil, francamente entre essas duas cidades (Vitória da Conquista e Jequié) que concorrem entre si pela liderança da região sudoeste da Bahia, a primeira ultrapassa em qualidade de atendimento e diversidade de oferta dos serviços em anos luz á cidade de Jequié. 
Portanto, se você estiver doente, m(inha)eu amig(a)o, faça as malas, vá para Vitória da Conquista, porque se ficar em Jequié você morre de inanição pela busca.

sábado, 16 de abril de 2011

A MERCÊ, MAS NÃO A DERIVA. QUEM DISSE QUE O MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UESB É BESTA?



Numa dessas tardes preguiçosas e calorentas em que Jequié estimula a “tagolada” em uma cerjevinha bem geladinha, que vem acompanhada por um aperitivo (picanha) feito delicadamente pela cozinheira do Bar do Betão, localizado em frente a UESB, estávamos eu e meu esposo, disponíveis para apreciar o movimento de entrada e saída dos estudantes, no frenesi de engajamento político que uma greve como essa provoca.
Não posso deixar de dizer que me envaideço demais dos “meus meninos e meninas”. Não posso deixar de admitir que fico toda toda orgulhosa dessa maternidade – agora disputada – que é altruísta, que é autônoma. Que mãe, alías, não se orgulharia da emancipação dos seus filhos?
Quando vejo os “meus meninos e meninas” sitiarem a Universidade em que trabalho, sou tomada por dois sentimentos antagônicos: inveja e saudosismo. Fico com uma ponta de inveja, que me faz questionar, porque não fui eu, porque não fomos nós, docentes, quem fizemos isso? E saudosismo porque durante mais que 5 anos da minha vida militei no movimento estudantil da UFBA (Presidindo o Diretório Acadêmico de Geografia), aonde aprendi o pouco do que sei sobre política e sua podridão.
Antecipando-me a qualquer má interpretação que pode advir a partir da observação do longo tempo em que me dediquei ao DA de Geografia da UFBA, quero dizer que não desejava me perpetuar no poder em mais que 2 gestões do DA, mas a conveniência e a preguiça de cada um dos membros do curso, forjou a minha posição de mandatária. E de tal modo isso foi conveniente, de tal estive associada ao DA, que mesmo tendo aulas no Mestrado em Geografia da UFBA, os estudantes da Graduação me convocavam para as suas reuniões, o que provocava críticas dos professores, que vendo a minha ligação com o DA, questionavam a minha “maturidade” para estar na Pós Graduação...Imbecis os meus professores, que tristemente imaginavam que a maturidade de qualquer estudante se forja apenas no contato com as suas caducas teorias.
A partir dessa experiência no DA de Geografia da UFBA, também, aprendi que seus sonhos de juventude estavam “por fora” e que a partir de um determinado momento passou a valer a lei do mais forte no caso, lei que os partidos mais fascistas do Brasil, o PT e o PC do B determinavam.
Minha decepção com a política partidária foi tão grande que quando aparece na TV os mensalões da vida, quando me dizem que as compras que cada brasileiro fez, quando usou a bandeira da administradora do Cartão de Crédito Visanet do Banco do Brasil ajudou a financiar a campanha de Lula para a Presidência da República, ainda que não votando nele, a minha sensação é de eu já sabia, e mais ainda, de total aceitação, porque francamente, não poderia esperar outra coisa das nossas lideranças políticas, sejam elas de esquerda ou direita.
...Mas retornando ao Movimento Estudantil da UESB e a tarde preguiçosa de contemplação do movimento dos estudantes em frente aos portões fechados da instituição, sentia-me orgulhosa, até o momento em que começo a puxar conversa com alguns deles e percebo “contaminações” urdidas por alguns inconformados com as decisões do DCHL, que objetivam assegurar o direito de ir e vir de cada professor. Nos discursos enviezados, repassados a tais estudantes – perversamente por um grupo que não se conforma com os rumos mais democráticos que o processo eleitoral de tal departamento definiu em pleito legítimo –, a história fantasiosa de um professor concursado que é liberado para cursar doutorado tão logo saí a sua nomeação, é citada como exemplo de má conduta na gestão desse departamento.
Preocupa-me muito falas como essa porque elas focalizam-se na intriga de curto alcance, sem se dar conta que (será?), quando se forja tão descaradamente o atrito entre as categorias de estudante e professor, ainda que sem perceber, estamos encetando um veneno mortal no própria razão de ser de nossa mobilização. Preocupa-me muito a fala que ouvi do estudante, porque sem perceber ela acaba concordando com o decreto do Governador “pelego” que nos retira direitos essenciais, dentre eles, o de ir e vir
Escândalo, excrescência, vilania, sordidez não é o professor sair parcialmente (com calendário espacial) para se especializar as suas próprias espessas e voltar mais qualificado para o seu trabalho. Escândalo, excrescência, vilania, sordidez é perpetuar “a lenda” de espaços de trabalho e convivência que não se realizam nunca, senão, na imaginação daqueles que desejam ver a UESB crescer. Escândalo, excrescência, vilania, sordidez é tentar retirar de nós cidadãos, o direito legítimo de nos movimentarmos livremente e de nos educarmos, também. Escândalo, excrescência, vilania, sordidez é criar cursos, tendo em vista o atendimento de uma elite política partidária local/regional, que está sempre em disputa, como galos numa rinha, sabendo que esses cursos não se sustentarão, senão, pela iniciativa do Governo em criar novas vagas para a Universidade.
De há muito tempo, o Governador Jacques Wagner – ou diria, também os Governadores que o antecederam – vem tentando engendrar fórmulas para “assassinar” com requintes de crueldade, as universidades estaduais baianas. A visão que deixa transparecer, não só por meio do Decreto 12.583, bem como, a partir da leitura atenta de alguns trechos do próprio Estatuto do Magistério Superior, evidencia as intenções do cometimento dessa perversidade.
Uma ação direta de inconstitucionalidade, que tenta retirar de tal estatuto a obrigatoriedade do cumprimento do estagio probatório já obteve deferimento na Justiça Federal, conquanto, o Governo do Estado da Bahia tenha recorrido a medidas protelatórias, objetivando manter o professor dentro da sala de aula, tendo em vista justificar perante o Ministério da Educação – que obriga as instituições de ensino superior  a terem determinado número de docentes produzindo e qualificados –, o não reconhecimento, ou quando não, o fechamento das portas da UESB quando as metas de qualificação e produção não forem atingidas.
Culpabilizar o Professor por seu desejo de especializar, não demonstra somente a mesquinhez de quem assim pensa, mas, a incompreensão patente do que é a própria Universidade, aonde não se vende banana, maçã, e sim, se doam saberes, produto de nossas experiências; aonde a medida não é somente a quantidade de professores e sim, a qualidade que eles tem; aonde a filosofia imperativa deveria ser a do questionamento de verdades que chegam formatadas e não a aceitação tácita dos discursos que prontos.

DOS RITOS E CERIMÔNIAS DE PASSAGEM: HOMENAGEM A HISTÓRIA DO OUTRO, A MINHA HISTÓRIA...











Eu sou toda esquisita, toda diferente. No último sábado, dia 29 de janeiro, fui homenageada pelos formandos de Pedagogia da UESB/Jequié, turma 2010.2, e ainda que tenha ocorrido um atraso considerável para ter início a colação de grau da turma, gosto de tudo nesse rito de passagem, inclusive, desse atraso: a espera para dar início a cerimônia, momento que me permite circular entre os alunos e seus familiares, meus colegas e funcionários da UESB; a cerimônia de colação de grau em si mesma, que me proporciona conhecer um pouquinho mais das pessoas que eu ajudei a formar; a emoção que flui no abraço apertado que os formandos – agora formados – trocam com seus “padrinhos”; o reconhecimento e a saudade publicizada dos parentes e amigos que partiram e que de forma intensa, contribuíram para que aquele momento se concretizasse; os cabelos e a maquilagem feitos no capricho; os belos vestidos.
No final das contas, acho que o que eu gosto mesmo é ver os meus alunos se despiram das formalidades que regulam o cotidiano da vida acadêmica, para se tornarem simplesmente pessoas comuns, a quem nós professores, não devemos nada. Pessoas que deixam de se preocupar com notas, com a produção de artigos, fichamentos, resenhas, seminários, etc para se tornarem novos colegas. Pessoas que deixam de, a partir daquele momento mágico, nos tratar como opositores, e passam a reconhecer que alguma novidade trouxemos as suas vidas.
Fico pensando também, no desprendimento e humildade que só a profissão docente permite: preparar o outro, na expectativa que aquele outro, um dia nos supere. E quanto mais ele nos superar, mas sensação de orgulho teremos.
E por isso mesmo, crio na minha cabeça imagens quase completas de quem foram as “professorinhas” de figuras como Paulo Freire – tão lembrado nesses momentos solenes –, em seus tempos de menino no Recife, Pernambuco. Quanto orgulho elas devem ter tido do ilustre educador. Quando reconhecimento esse consagrado educador devia ter de por suas “professorinhas” do Recife...
Penso mais próximo, também. No abraço apertado que cada formando, que cada formanda, troca com seus familiares, imagino as trajetórias de vida de cada uma das figuras humildes que colocam anéis, entregam diplomas e ajeitam faixas. Em sua maioria, uma gente simples, que não raro sabe apenas assinar o nome, mas que transformou em um projeto de vida tornar o(a) filh(a)o, o net(a)o, “doutor(a)”,  acreditando firmemente que assim, as suas vidas e as deles serão transformadas, também. E por que, não?...Mas isso tem muito haver com a escrita de nossa história na Universidade.
Evidentemente, estou consciente que o labor cotidiano do exercício profissional traz outras tensões, talvez até mais complexas do que a Universidade apresenta – a rotina extenuante e com prazos limitados, a necessidade de produção e reconhecimento pela comunidade, as cobranças das chefias, o contato com o outro –, contudo, no momento em que as pessoas se entregam aqueles ritos (a cerimônia, principalmente), tudo parece ser esquecido e prol da comemoração merecida. Os aluno(a)s merecem a comemoração, tanto quanto os seus familiares e amigos, e nós, professores, que “cada um no seu quadrado”, contribuiu de algum modo para que cerimônia se tornasse um momento real.
E modéstia a parte, nós não contribuímos com a formação de qualquer profissional. Pela equipe de trabalho que o Curso de Pedagogia da UESB consegue reunir, pela qualidade dos alunos que temos, nós formamos profissionais de excelência, o que nos permite ostentar a marca de que torna Jequié especial no cenário da educação baiana “Jequié, cidade educadora”.
Meu santo é velho! Reconheço, em alguns momentos da minha vida preciso ser chata, e exerço com maestria a minha chatice, por isso não permito colocar as minhas emoções num lugar de prestígio para fazer uma afirmação desse tipo levianamente, até porque reconheço que ela tem uma verve política.
Meus termômetros para reconhecer o quanto a formação dos alunos de Pedagogia é de qualidade são dois: meu renovado empenho para tornar minha prática melhor – sim, porque se me sentisse desestimulada procuraria um outro que fazer – e meu filho de 7 anos, que frequentou as escolas mais caras de Salvador, e ainda assim detestava a sua rotina escolar.
Hoje, morando em Jequié, me sinto segura que em termos da proposta de mudança que fiz para ele – mudar de cidade, mudar de escola, de professora, de coleguinhas –, e tenho consciência de estar oferecendo o que há de melhor, na medida em que, no final do ano de 2010, momentos finais de suas atividades escolares, foi ele mesmo me pediu para permanecer na escola em que está matriculado, e creiam, não foi somente pela companhia dos amigos, mas, porque o projeto político pedagógico da escola é sedutor para quem deve ser: ele, aluno.
Tantas vezes confessei o meu apreço pelos rituais de formatura, e não me canso de fazê-lo, porque acredito que sejam as histórias pessoais expostas nesses momentos, que tornam a vida especial, a minha carreira docente dignificante. A minha história em relação a esse tema é emocionante, linda, comovente porque, da última vez em que vi meu pai ele - internado por conta de um derrame cerebral -, me deu o dinheiro que faltava para ultimar os preparativos de minha formatura, e num gesto de despedida desse plano, decretou que ainda que se ele não estivesse mais aqui, eu comemorasse com festa o alcance dessa meta, por ser a última das suas 3  filhas a se formar no nível superior. Minha irmã, mais nova (já falecida) era Economista e a mais velha, se formou em Direito, sendo que há mais de 13 anos, tornou-se Juíza Federal do Trabalho
Ainda que meu pai não fosse exatamente um homem humilde, pela quantidade de informações (lia 3 jornais todos os dias; 1 folha deOs Sertões, também, além de me aproximar do gosto pela boa música e amar a literatura de Edgar Alan Poe -  e vivência que amealhou nos 66 anos de vida em que esteve por aqui considero que, pelas posturas que ele tomou - recusou-se a entrar na faculdade, porque estava convicto que a boa formação técnica lhe bastava - ainda lhe faltava bastante para ser considerado um homem culto...ou será, prático?
Na minha formatura eu comemorei! Estive praticamente sozinha nesse momento, porque ninguém da minha família me acompanhou, mas eu festejei alicinadmente, delirantemente para “beber o seu morto” mais querido.
É realmente uma pena pensar que por conta de uma tradição (inventada) estúpida, minha mãe e minhas irmãs, não queiram ter representado o meu pai naquele momento. Para mim, bem fazem as pessoas “da roça”, que oferecem para os convidados do enterro a sua melhor cachaça, e "se riem" dos feitos do falecido. Para mim, aliás, quanto mais querida a pessoa fosse, mas comemorada a sua vida/relação com o outro deveria haver.
Na minha formatura eu “bebi dessa cachaça”, "bebi o meu morto" e se pudesse quando cheguei em casa, teria posto o aparelho de TV no volume mais alto, o aparelho de som também, porque merecemos eleger, ao menos um dia na vida para nos alienarmos em relação a tristeza, merecemos eleger um dia na vida para expurgar as formalidades, merecemos acreditar que o amanhã será melhor, porque é isso que as formaturas representam: a crença que o alcance de uma meta nos fará tornarmo-nos seres humanos melhores.

A DESCONSERTANTE ASSEMBLÉIA DA UESB E A DEFLAGRAÇÃO DA GREVE UNIVERSITÁRIA. MUITO MAIS QUE UM CALO NO PÉ





Ontem, dia 05 de abril de 2011, no Auditório Wally Salomão da UESB, Campus Universitário de Jequié, aconteceu a Assembléia da ADUSB que deflagrou a greve dos docentes, e, espero eu, universitária. Chamou a minha atenção, desse que se configurou como o mais importante evento que a categoria docente da UESB realizou nos últimos 10 anos – tempo de minha permanência na instituição –, alguns aspectos que me parecerem genuinamente verdadeiros, e outros nem tanto, das falas proferidas; a coragem de uma colega – única a votar contra a realização da greve – que foi contra a maioria, e que por essa razão eu passo a respeitar muito mais a partir de agora; o perfil das decisões, que graças à intervenção dos estudantes, deixam de ser classificadas como “da categoria docente” e passam a “ser da classe universitária”; e a cobrança dirigida a alguns professores do DCHL por parte de um estudante, que nos julgou silenciosos demais, ante os pronunciamentos feitos tão apaixonadamente pelos outros colegas de outros departamentos da UESB e que me fez sentir como se estivesse em um concurso de popularidade, tendo que provar que sou a mais mais diante da platéia.
Para mim tudo nessa Assembléia foi diferente e, paradoxalmente, igual. Diferente foi ver a limitação de acesso praticada pelos estudantes, prostrados bem à porta da Instituição, agora controlada por eles. E igual e previsível foi constatar o gesto de “boa vontade” da ADUSB, que por votação expressiva da plenária docente, assegurou o direto à voz para os discentes se manifestarem. Puro jogo de cena!
Não posso me esquecer também das encenações de engajamento solidário aos estudantes e tentativas constrangedoras de simulação de independência partidária praticada por alguns colegas, professores. Tentativas essas que se desvanecem quando lançamos um olhar sobre o modo como agem no cotidiano universitário: manipulam estudantes na tentativa de faze-los crer que, dentro da política há um lado bom e outro ruim e perseguem colegas, que ousam discordar de suas posições.
Muito embora a encenação fajuta não tenha surtido efeito em mim, os inadvertidos poderes públicos municipais não deixam por menos e expõem a desfaçatez dessas células cancerosas e um cinismo constrangedor que povoam a UESB, quando exibem cartazes em via pública: “parabéns Governador Jacques Wagner pelos 75% de votos conquistados junto a população de Jequié”. Quanto por cento dessas 75% de votos conquistados pelo remakede Toninho Malvadeza polaco não foi assegurado pelo voto dos que agora querem parecer a-partidários?; há quanto tempo a esquerda vagabunda brasileira, com o consentimento dos preguiçosos e silenciosos intelectuais, não domina o “livre pensamento” universitário formatando teorias, métodos de trabalho dos professores, que insistem em praticar um fisiologismo que nem Marx suportaria mais?; quantas vezes acusamos o outro de sermos a-políticos (querendo chamá-los de a-partidários) simplesmente porque esse outro ousa discordar do consenso que tristemente destitui de legitimidade o pensamento independente e original?
É por razões como essa que pratico na minha profissão, o que o mestre Milton Santos deixou como legado: “eu não sou preta e nem sou branca...sou intelectual e não comprometo essa condição por nenhuma fé”, porque política não pode ser pensada como jogo de futebol; política não é FLA  x FLU e nem BA x VI; política deve justamente opor a razão à emoção pragmaticamente.
A desconcertante Assembléia dos Docentes da UESB foi boa por ser lacerante. Nela escancararam-se a nossas fragilidades em termos de organização enquanto categoria. Fomos, na realidade, tomadas de roldão pela reação dos estudantes, que forçaram a deflagração da greve, nos dando o lastro necessário para legitimar o movimento de embate contra a destruição das universidades estaduais baianas. Um lastro, inclusive, que nós docentes não temos como sustentar sozinhos – nunca tivemos –, senão, amparados pelo apoio dos discentes, porque num estado antidemocrático como esse, até as leis que o próprio Estado consuetudina para distensionar as relações de capital/trabalho, ele mesmo ignora a conveniência de atestar a sua força descomunal contra o protesto legitimado pelo desrespeito. A lei de greve e a Constituição Federal, achincalhadas pelo Governador remake deToninho Malvadeza polaco, quando me nega o direito de ir e vir e quando me repreende quando eu tento me educar, são exemplos do que quero dizer.
Muito embora eu esteja convicta que nada muda mais que o passado – preenchido por histórias inventadas, porque nossa memória não consegue dar conta da reprodução literal do que se foi – procurarei imobilizá-lo para lançar uma questão que me incomoda agora e que precisa ter uma resposta entusiasmada, não só minha, mas da Universidade como um todo: e agora, o que faremos?
Muito embora precise, não penso em ir a praia, não penso em dormir até tarde e nem penso em ajudar o meu filho a dar conta dos seus deveres atrasados, por minha culpa, inclusive. Ao contrário, a partir da deflagração dessa greve universitária, praticar a minha intelectualidade produzindo, passou a ser condição indispensável para atestar o meu engajamento com a luta que eu escolhi lutar. Faço isso porque detestaria saber que ninguém sentiu a falta da UESB em Jequié, Itapetinga ou Vitória da Conquista.
É para essas comunidades, inclusive que deixo um apelo: esforcem-se para não pensar na Universidade com a mesma lógica com que pensam o funcionamento de uma Ramarim da vida, porque além “das mercadorias” que se “vendem” lá e aqui serem diferentes, a longo prazo a falta de sapato pode causar no máximo o aparecimento de um calo, mas, a longo prazo, a falta o fechamento das portas da UESB causa o que? Muito mais que um calo no pé, admitam. Quem tiver filhos estudando, quem for mãe ou pai que é estudante que me dê essa resposta;

Um abraço e vamos a luta!

COLUMBINE NÃO É, OU É AQUI?





Vou pular a parte em que me justifico por desejar que essa tragédia não tivesse acontecido, porque acho que esse desejo é óbvio, pelo menos nas pessoas normais. Apesar de nossa vontade, no entanto, infelizmente aconteceu: um doente mental entrou numa Escola Pública do Rio de Janeiro e assassinou a tiros 13 crianças deixando-nos em pânico, a fazer análise e a tecer comparações.
Meu pânico instala-se por razões obvias: NÃO ME SINTO SEGURA, quanto a proteção que o Estado que me oferece, nem muito menos, me sinto segura em relação à proteção que compro a R$10,00 mensais da Associação de Moradores do bairro aonde moro, o Jequiezinho, Jequié. Acho inclusive, que o preço que pago, faz fuz ao nível de segurança que me é oferecida, pois, por essa compra passo a ter "direito" de ouvir um sujeito de cara ameacadora - o mesmo que cobra é o mesmo que apita - apitando nas madrugadas, geralmente insones, inclusive, por causa do som estridente de tal apito, que não me deixa dormir. 
Para me proteger da fragilidade da (in)segurança que é oferecida eu, tal qual a pequena/grande Jade – da história de assassínio na escola pública do Rio de Janeiro, que desenhava ao som dos tiros que lhe ameaçavam a vida –, procuro desligar o cérebro das perversidades do mundo e como ela invento castelos; monto uma trincheira interna maior que os muros de Tróia; me encastelo dentro de mim mesma, como bem fez Maria, a rainha louca de Portugal, e fico inventando histórias fantasiosas de heróis, cheios de desprendimento, de coragem. Heróis de filme de ação...bom são as minhas estratégias!...
Para entender o que aconteceu no Rio de Janeiro, também articulo outras táticas: escuto a “voz da razão” de notório saber da Psiquiatria a tentar explicar a “tsunami da alma” de um ser humano, entrincheirado dentro de um universo de delírios. Ainda que sem abrir mão de adjetivações do tipo assassino, perverso, todos foram sinceros no reconhecimento de que o que aconteceu foi inevitável porque, mesmo eles, profissionais das mentes e alma, não poderiam prever quanto aconteceria à erupção do evento que devastou a vida de tantas famílias, inclusive, a do criminoso, cujo corpo ainda aguarda para ser enterrado na fria pedra do necrotério.
Somente me senti contemplada por uma fala. A de uma Antropóloga, que escapando da avaliação psiquiátrica, evidentemente, esforçou-se para explicar porque não se pode comparar o massacre de Columbine com o caso brasileiro. Discutindo a questão do acesso a arma nos Estados Unidos e no Brasil, a professora argumentava inteligentemente que, diferentemente do que ocorre nos EUA, aonde os cidadãos são orientados desde muito cedo a possuir armas como forma de proteção as suas “propriedades” – aí incluindo as suas famílias – aqui no Brasil, as armas servem como instrumentos de coação e medo, portanto, enquanto lastros para a promoção de ataques de cidadãos/cidadãos, polícia/cidadãos e bandidos/cidadãos. Para exemplificar o que se quer dizer, basta percorrer os jornais diários que anunciam as "possessões momentâneas" que dominam as almas humanas imersas no universo do desejo do revide...contra o chefe, que lhe humilha; contra a mãe ou a madrasta que os maltrata; contra o estranho que lhe olha feio. Os mortos nessas tragédias da vida urbana, projetam na mente dos criminosos, verdadeiros monstros de um cotidiano isento de qualquer possibilidade de afeto.
Não me atrevo a dizer que nos EUA a violência seja menor que no Brasil, porque sei que o tamanho da riqueza da maior potência do mundo capitalista é proporcional ao tamanho da pobreza que ele produz, contudo, a sociedade americana, ao menos preocupa-se em justificar, via de regra, através do discurso da preservação do direito da propriedade e inviolabilidade do lar, a defesa dos seus cidadãos. Aqui no Brasil, não é assim. Compramos armas, sem termos direito ao porte, para mostrarmos aos outros que somos mais homens, mais mulheres, demonstrarmos a nossa força opressora diante do outro.
E essa sensação de poder que a arma de fogo nos dá, nos deixa absolutamente transtornados. Uma pessoa muito próxima de mim inclusive, que possui porte de acordo com o que preconiza a lei, uma vez permitiu que eu tivesse acesso a sua arma. O corpo tremia feito “vara verde” e a sensação de poder, é indescritível nos poucos segundos em que estive com ela nas mãos.
E se há alguma coincidência entre o episódio americano e o brasileiro, essa identidade se localiza no modo como a aldeia global procura se harmonizar com as desgraças: imitamos o pouco que é bom e o muito que é ruim de tudo que vem da Terra do tio Sam. O doente mental Wellington Menezes de Oliveira, por exemplo, certamente tinha como heróis figuras comuns de vídeo games em que o mérito é conseguido com a simulação da morte, reproduzida nos mínimos detalhes.
Não sou Psiquiatra, mas fico pensando em quantas projeções o desequilibrado Wellington Menezes de Oliveira expurgou com seu gesto tresloucado de transferência: a mãe biológica, que não tinha condições de lhe dar amparo; os colegas que com ele praticaram bulling...todos essas personas que lhes abandonaram ou perseguiram, representadas nas figuras das crianças inocentes que perderam a vida. E no som de cada tiro, um grito lançado pelo assassino: eu estou aqui...prestem atenção em mim.
E o pior disso tudo é termos que guardar o nosso dedo acusador dentro dos bolsos, porque o cara é insano, inimputável, portanto, perante a lei. Sinceramente – retornando ao primeiro parágrafo desse texto – se se pudesse eleger outros atores dessa tragédia, preferia que ela tivesse sido cometida por um assaltante comum, porque a ele seria legítimo dirigir a nossa fúria, afinal, nesse tipo de doença (a mental), ninguém tem culpa de estar acometido.
Culpar a quem por essa tragédia? Acho que por vício e dificuldade de não encontrar a quem culpar, penso que no máximo poderíamos questionar ao Pastor da Igreja Testemunha de Jeová que tipo de ascendência ele tem sobre o “seu rebanho”. Nada acintoso, nada agressivo porque, principalmente, no que tange a compreensão – mínima que seja – do que se esconde na alma humana, lideres religiosos de qualquer denominação, aparentam grosseira ignorância. Falo como católica, porque não me esqueço da recusa de um padre em ouvir as minhas confissões, simplesmente porque, julgando-me pela aparência – modo de vestir, no seu entender, impróprio – não me achou digna de perdão transferido para ele por Deus. E eu encolhida, humilhada, “ensaquei” a minha angústia, expurguei o “meu pecado” através do choro solitário e nunca mais procurei um profissional padre, bispo, pastor para confessar coisa nenhuma, preferindo a partir daí a companhia comprometida dos bons amigos que tenho.
Tanto para Wellington, quanto para nós, seus juizes e carrascos, a melhor coisa a ser feita foi morrer. Fico pensando no que faríamos com figuras assim se tivessem sobrevivido. Fico pensando que em proposta teríamos para o seu futuro: o encarceramento numa instituição de atulho de louco condenados ou o “suicídio” nas mãos de um policial, tal qual o que vitimou o assaltante do ônibus 174