sábado, 18 de junho de 2011

Marcelo Torreão Sá*
Tânia Regina Braga Torreão Sá**


Quando nos diziam que essa greve das UEBA´s é “patronal”, querendo insinuar que o Estado Totalitário Mercantil governado, paradoxalmente, por um membro do Partido dos Trabalhadores a planejou e a quis, nós duvidávamos. E agíamos assim não porque desacreditavamos que esse seria capaz de provocá-la, visando seqüestrar os nossos salários para reinvesti-los e pagar as contas do “caixa dois” da campanha para a eleição do Governador Jacques Wagner. Achávamos a tese por demais conspiratória, e admito mesmo, “pelega”, porque expunha o tom desagradável e niilista que atinge não somente a esse movimento paredista, mas a boa parte de outros movimentos sociais, sob esse olhar provocativo e revelador, corroído por dentro pelo conchavo, pela trama que se organiza nos sótãos do poder.

Decorridos, no entanto, mais que 60 dias de greve docente e estudantil, ouvindo as narrativas indignadas dos meus colegas membros do Comando, que expuseram a postura indiferente e estratégias de postergação às quais o Governo da Bahia tem se valido PARA NÃO SOLUCIONAR, o impasse criado pelo famigerado Decreto 12.583/11, não duvidamos tanto assim da possibilidade de que essa greve realmente esteja sendo usada também em benefício dos interesses espúrios do Governo do Estado.

Essa é em nossa opinião, a análise da crise que não se deseja ver exposta, porque ela escancara não somente a dificuldade que todos temos em ressituarmo-nos dentro de um projeto político realmente comprometido com o que é importante para os destinos da educação, mas porque esse juízo das ocorrências que envolvem a greve das UEBA´s, a greve da saúde do Estado da Bahia, a greve dos professores do município de Vitória da Conquista, a greve dos bombeiros do Rio de Janeiro, forçam o sentimento de reflexão, e quiçá de mudança de postura, de nossas lideranças que se vêem pelo sentimento de orfandade – a quem o projeto irrealizado de uma esquerda democrática os relegou – obrigadas a repensar na tessitura de alianças e de apoios pactuados, tendo em vista que AS SUAS BASES NÃO ACREDITAM MAIS NA INDIFERENCIAÇÃO ENTRE A “DIREITA CONSERVADORA” E A “ESQUERDA DEMOCRÁTICA”. A constatação dura a ser feita, destarte é que estamos à deriva. Ainda em busca de algum projeto, certamente novo, com que possamos nos identificar, por que o que está aí DEIXOU A MUITO TEMPO DE NOS SERVIR.

Sobre a greve nas UEBA´s e as negociações feitas com o Estado Totalitário Mercantil, comandado pelo Governador do Partido dos Trabalhadores, chegamos a um ponto em que ele, pouco habituado a derrotas, apenas encena a sua força, pois viu-se obrigado, por determinação judicial, a pagar os nossos salários “seqüestrados”. Francamente, não creio que esse mesmo Estado, que desrespeita a própria Constituição cumpra amanhã, dia 13/06, a determinação do Supremo Tribunal Federal, mas, ainda assim, o reconhecimento da justeza de nossa causa, sem sombra de dúvidas, pode ser considerada como a nossa maior vitória até o momento. Sobre tal decisão, alias, enxergo-a com reservas porque, não sejamos ingênuos, Juízos e Ministros, ainda que orientados pela lei, não deixam de enxertar seus julgamentos com impressões políticas e pessoais até, de todas as naturezas.

E ainda que estejamos céticos com respeito à disposição do Estado Totalitário Mercantil, comandado pelo Governador do Partido dos Trabalhadores em cumprir o que determina a lei, NÃO CREIO QUE ESSA GREVE DURE MUITO MAIS TEMPO, visto que a simples equação feita por esse Estado já aponta os prejuízos econômicos provocados pela retenção ilegal dos salários docentes, pela greve das UEBA´s como um todo.

Em Jequié, por exemplo, os comerciantes filiados ao CDL já se mostram dispostos a prestar solidariedade ao movimento paredista, tendo em vista os prejuízos causados pelo desaparecimento da clientela de classe média, representada pelos docentes e estudantes que, a essa altura e com remunerações em dias, já deveriam estar lotando os estabelecimentos comerciais da cidade à procura dos produtos do São João.

Nas proximidades do próprio campus da UESB/Jequié também os abalos a economia são visíveis no pequeno comércio de bares, restaurantes, fotocopiadoras, mercadinhos, armarinhos, etc. A greve obrigou os pequenos comerciantes de tal modo a fazer concessões ao capital que os que não fecharam as portas – devido à incapacidade de remunerar aos funcionários – simplesmente foram obrigados a recorrer a estratégias, tais como, cerrá-las em horários em que antes permaneciam abertas (almoço, principalmente) ou reabrir a velha caderneta do fiado. Até quando, não de sabe. E assim acontece em Jequié como acontece em todo município baiano aonde esteja instalada uma unidade das universidades estaduais, que dão uma contribuição superlativa para a dinamização econômica dessas áreas.

Para nós, portanto, não se trata de medir a capacidade negocial dos representantes legitimados por nós, bases do movimento paredista, mas acima de tudo, trata-se de perceber o quanto essas lideranças estariam dispostas a redefinirem as suas possibilidades de pensar outra opção política, senão, aquela que nos enganou por tanto tempo. Achamos, inclusive, que insinuações feitas em postagem de alguns blogs e sites de Associações Docentes já evidenciam que triste opção será feita, pois, precipitando-se ao desfecho final dos eventos dessa greve, já anunciaram o possível fim do movimento paredista, pela simples sinalização de as negociações com o Estado Totalitário Mercantil, comandado pelo Governador do Partido dos Trabalhadores estariam reabertas. E após uma enxurrada de protestos vindos de todos os lados, a emenda parece pior que o soneto. Alegaram ser essa postagem sido compilada de uma mídia externa ao movimento, como se ela se publicasse sozinha.

E a persistência nessa visão, que é de afronta a todos nós, permanece, vez que, numa outra postagem, dessa vez falando sobre a possibilidade de cobrança de mensalidades em Universidades públicas, louvam-se as iniciativas tomadas por deputados federais do mesmo Partido dos Trabalhadores, do Governador Jacques Wagner, que nem sequer reconhece a existência de nossa luta, fazendo-se representar na mesa de negociação, por asseclas totalmente desprovidos do poderes decisórios.

Fato é que o fim da greve, pactuada na mesa de negociação se aproxima, e AINDA QUE ISSO POSSA ACONTECER DAQUI A 1 SEMANA, 2 DIAS, 15 DIAS, O FINAL DA GREVE NÃO DEVE SER TOMADO COMO O FIM DA LUTA. Para nós ela apenas recomeça, só que em outro campo de batalha: nossas salas de aulas. Por isso mesmo esses espaços devem servir como palco privilegiado dessa tentativa de desconstruir a ideia que, na política, existem os bons e os maus.


*Docente do Departamento de Geografia da UESB/VC e do Departamento de Educação da UNEB/Campus XI.
** Docente do Departamento de Ciências Humanas e Letras da UESB/Jequié.